sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Goya



Francisco de Goya e Lucientes nasceu no dia 30 de março de 1746, em Fuendetodos, aldeia da província de Zaragoza, Espanha, que vivia da agricultura assim como maior parte da península Ibérica no século XVIII. Viveu bastante para os padrões de sua época; morreu aos 82 anos, em 1828. Conheceu, dessa maneira, a Espanha do final do século XIII e princípio do XIX; período no qual cinco monarcas sentaram-se no trono espanhol: Fernando VI (1746-1759), Carlos III (1759-1788), Carlos IV (1788-1808), José Bonaparte (1808-1813) e, por último, Fernando VII, que iniciou seu reinado em 1814. Com excepção de Fernando VI, que reinou durante sua infância, e do efêmero irmão de Napolão, José Bonaparte I, os demais monarcas reinaram durante um período relativamente grande.




Goya foi dono duma capacidade ínclita de captar o fundo espiritual que demarcou os câmbios radicais de sua época. Soube expressar magistralmente em suas obras as diferentes etapas e plasmar tanto os períodos distendidos, como aqueles em que esteve comprometido ao papel de pintor da côrte.





Se as transformações daquela Espanha onde vivia foram importantes em sua constituição como artista, as que tiveram lugar pelo restante do continente europeu foram, todavia, de maior envergadura: desde o desfecho da Revolução Industrial - passando de uma economia agrária a uma economia industrial - à Revolução política que deu término ao Antigo Regime. Não somente viveu esses episódios, senão que também participou deles ao convertesse em pintor da côrte e diretor da Academia de Belas Artes de San Fernando.


Foi seu gênio artístico, de espírito inquieto, analítico e inovador, que o fez sobressair-se frente a seus contemporâneos; tais como David, Paret, ou Géricault. Sua obra reflete - por mais que haja hodiernamente uma opinião que tenta colocá-lo sob um matíz distinto - o sentimento de um liberal convencido. A certidão de tal afirmação se encontra no facto de que, por motivo desse seu talante de artista liberal adepto à modernização do país, José Bonaparte I o nomeou como seu pintor particular.



São três os períodos que poderíamos dizer que atravessou sua produção pictórica:

1. 1771-1807. É a fase da juventude e maturidade. Goya foi nomeado pintor de câmera, primeiro por Carlos III e posteriormente de seu filho Carlos IV. Etapa frutífera, em que sua produção pictórica centra-se nos cartones para a Real Fábrica de Tapices de Madrid e os retratos encomendados tanto pela família real como pela nobreza. A pintura de Goya mostrava-se, nessa época, alegre, com uma paleta ampla e rica em contrastes. Os temas eram ditados por seus clientes: a nobreza e os burgueses da Madrid do final do século. Pinta também estampas bucólicas, claramente ligadas ao gosto pela representação de brincadeiras e cenas de campo. São os quadros das "Majas y Majos" da Madrid castiça, contrastando com algumas outras obras, como "El Albañil Herido", aonde Goya reflete a outra face de cidade, a dos grupos menos favorecidos.






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2. 1808-1824. A segunda fase inicia-se com a instalação e conseqüente queda de José B. I. Goya era um homem aberto a mudanças e devido a seu ideário liberal alimentava um possível despertar espanhol. Mas realidade foi distinta, desenganou-o, e marcou de maneira nodal sua obra a partir de 1808. Foi esta a época das pinturas negras, de seu distanciamento pessoal, da perca da ilusão por ver uma Espanha renovada. Mas foi, também, a época em que produziu suas obras mais conhecidas: "Los Fuzilamentos de la Mancloa" e "La Carga de los Mamelucos", quadros de marcado conteúdo histórico, pintadas seis anos depois dos sucessos que narram. Nelas, Goya compenetrou-se totalmente ante aos factos aquiescidos. Apesar de sua paleta começar a obscurecer-se, ainda são os tons claros que centram a atenção do espectador, principalmente naqueles elementos que mais lhe interessa destacar. Os traços leves e fáceis difuminam-se em favor dum maior expressionismo dos rostos, algo que chama poderosamente atenção no quadro dos fuzilamentos. Os fundos se escurecem e o céu azul imprime uma gama diferente às obras.



As pinturas negras, que pintou num momento de introspecção total, trancado dentro de casa, simbolizam o medo à repressão e o rechaço pelo comportamento de Fernando VII; a paleta do pintor vai obscurecendo-se em maior medida, a pincelada se nota mais densa - e de uma rapidez fulgurante -, o brilho desaparece para ser substituído por traços de espátula.







3. 1824-1828. Nessa terceira fase, Goya abandona a Espanha para um exílio voluntário em Buerdeos, França. Ali, uma vez que se sente longe e a salvo, volta a ser o pintor das cores claras e vivas como em seus princípios. Recupera também a temática banal, alegre, mansa. Domina a cor, sabe empregar a pincelada de maneira magistral e sem necessidade de fundos detalhados. Sabe colocar seus representados em um ambiente mais acolhedor.





Mas se Goya é conhecido por sua técnica e por plasmar a realidade que o cercava, também é pela quantidade de aquafortes que desenhou ao largo de sua vida. Neles, e através de uma vasta variedade de temas, manifestou melhor que nos quadros a visão que tinha da Espanha de sua época.





Foram cinco as séries de gravados que Goya produziu: a primeira é "Los Caprichos", que se colocou a venda em 1799. A segunda, titulada "Los Desastres de la Guerra", feita entre 1810 a 1820, sendo publicada somente 30 anos depois de sua morte em 1863, em plena crise do sistema liberal espanhol. A terceira serie foi "Los Disparates", formada de gravados em que Goya expressa o quão absurdo foi viver na Espanha que viveu, aonde as ideias liberais e a realidade pareciam contrapor-se. Completam o grupo "La Tauromaquia", uma produzida em território espanhol e outra no exílio, em 1825, próximo a sua morte.






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